sábado, 29 de agosto de 2009

OS CONCEITOS DE DESIGN

A definição de design, limitada em poucas linhas de frases, pode ser muito restrita ou demasiadamente ampla e aberta. Restrita por empregar poucas palavras, mas demais aberta por ser cada palavra semanticamente sujeita a interpretações não adequadas. No entanto, uma definição bem elaborada consegue nos transmitir um conceito adequado e correto, o que evita uso incoerente deste termo, já amplamente difundido na linguagem coloquial.

Conforme alguns dicionários, a palavra design tem os seguintes significados: desígnio, projeto, plano, intento, esquema, desenho, construção e configuração. Assim podemos deduzir que design é “uma idéia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado problema. Isto é, uma racionalização, um processo intelectual, que não é visualmente perceptível, nem sequer traduzível, na maioria dos casos, verbalmente”. Mas, somente isso não seria um processo completo, pois o design envolve também a construção e a configuração de um resultado concreto. O design, então, consiste na transformação desta idéia, por meio dos meios auxiliares para fazer visualmente perceptível a solução de um problema. Esses meios abrangem desenhos, modelos e protótipo. Até aqui, podemos considerar que o design completou apenas mais uma etapa – uma etapa de configuração concreta, objetual.

Ambos os conceitos – desenho e configuração – são demais amplos, e o objeto da configuração ainda permanece sujeito às diferentes interpretações. Embora a concretização do projeto esteja feita em forma de protótipo, suscetível à fabricação em série, o objeto concebido precisa ser colocado num sistema maior – o ambiente, para se relacionar e se confrontar com outros elementos e objetos. A avaliação das qualidades do objeto criado é feita na análise do mesmo em relação aos outros, ao ambiente e aos usuários, baseando-se em uma série de dados, informações, critérios e fatores. A aceitação dele pelos usuários, ou melhor, a receptividade dele, significa o poder da sua comunicação (pois há “diálogo” entre eles), que é o resultado do design efetivo. Daí o porquê de a palavra design ser usada coloquialmente como o sinônimo de “aparência bonita”, “forma bem resolvida” ou simplesmente “configuração”. Neste caso, a palavra tem a conotação de “bem resolvido”, “pensado” ou “planejado”, independentemente do tipo e da complexidade de produto ou atividade. Assim, é correto dizer “hair design” (termo usado pelos cabeleireiros) porque um modelo de cabelo é um padrão de configuração que pode ser repetido, porém incorreto quando se refere à pintura, que é um típico produto de livre expressão.

É preciso que cada área específica, cada setor, tenha um conceito adequadamente restringido para facilitar a compreensão dos seus problemas específicos. Assim, no design de produto (desenho industrial ou design industrial), há definições amplamente aceitas. Exemplos:

O design é um “processo de adaptação de produtos de uso, aptos para serem fabricados industrialmente, às necessidades físicas e psíquicas dos usuários e dos grupos de usuários”.

O design é “uma atividade no extenso campo de inovação tecnológica. Uma disciplina envolvida nos processos de desenvolvimento de produtos, estando ligada a questões de uso, função, produção, mercado, utilidade e qualidade formal ou estética de produtos industriais” (A definição feita no Congresso realizado pelo International Council of Societies of Industrial Design em 1973).

“O design é uma atividade que consiste em criar, segundo parâmetros econômicos, técnicos e estéticos, produtos, objetos ou sistemas que serão, em seguida, fabricados e comercializados” (De Jean-Pierre Vitrac).

Gui Bonsiepe, nos anos 70, propôs interpretar o design industrial como um meio através do qual podia alcançar os objetivos, tais como: melhorar a qualidade do meio ambiente; aumentar a produtividade, melhorar a qualidade de uso dos produtos; elevar a qualidade visual ou estética do produto e fomentar a industrialização dos países do terceiro mundo. Este é o exemplo de que a definição do design pode ser complementada e atualizada conforme novos fatores, valores, preocupações e visões. Portanto, é necessário buscar uma definição e conceitos em função do estudo, da pesquisa, dos objetivos e da atuação em cada área específica e da área maior, que consiste nas atividades projetuais para a produção de objetos. Não faltam conceitos que tentam explicar ou expor os pontos de vista, denotações ou conotações para nos ajudar a compreender o design. Todavia, nenhum deles substitui pesquisas e estudos teóricos mais aprofundados, abordando questões dentro dos diversos contextos, econômico, social, político, cultural e outros, o que exige leitura, análise crítica e reflexão sobre as mais diversas questões interligadas, especialmente nas questões das interações de diversos tipos e âmbitos, em função da melhoria da qualidade de vida por meio da intervenção projetual efetiva. Justamente por isso, tentamos conceituar o design, levando em consideração a responsabilidade social do profissional:

O conceito de design abrangente e adequado

Design é toda atividade projetual efetiva de criação e produção de objetos, sistema de objetos e ambientes organizados com objetos, realizada por meio de processos racionalizados, com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida humana.

É preciso compreender, com esta definição, que o design, para ser efetivo e satisfatório, depende da atividade essencialmente inteligente, pensada, racional, mesmo altamente influenciada pela intuição, sentimentos, percepção estética e sensibilidade artística. O projeto constitui um processo essencialmente de racionalização não só do processamento, avaliação e aplicação dos dados úteis, mas também da seqüência das operações, experimentações, análises e métodos de criação. Atividades são, assim, projetuais, isto é, baseadas em métodos e técnicas de projeto.

Toda atividade pensada e planejada, ou que segue métodos, consiste em um processo. Desde a confecção de um bolo até o planejamento de uma cidade, há sempre um processo que demanda tempo, espaço, métodos, técnicas e materiais. No design de produtos, o grau de complexidade é de tal maneira grande que exige uma metodologia eficaz para orientar o designer a racionalizar toda a seqüência do trabalho para conceber um produto.

Um produto é um objeto, seja uma logomarca (levando em consideração a sua materialidade) ou um automóvel, seja uma cadeira ou um stand de exposição. Um sistema de objetos é um conjunto desses, formando uma “família”. Todos os objetos reunidos num espaço imediatamente ao nosso redor constituem um ambiente constituído por objetos – um meio ambiente onde somos os usuários. E nele temos que nos sentir bem, confortáveis e felizes. Pois bem, entre todos esses elementos – objetos, espaço e usuários – existem relações de interação, em que um influencia o outro, um age sobre o outro. Nas diversas circunstâncias de interação, descobrimos eventuais problemas que exigem um ajustamento, uma correção ou uma intervenção. São problemas ligados ao visual, à estética, à funcionalidade, às dimensões, à quantidade, à segurança, à iluminação, à umidade, ao clima, ou mesmo à inexistência de algo que deveria ser acrescentado ou criado. Enfim, há uma complexa gama de fatores que influenciam a nossa qualidade de vida nos diversos ambientes. Os problemas apresentados nas interações ambientais esperam por soluções, e essas são motivadoras da atenção e do interesse do designer.

A intervenção do designer realiza-se por meio de atividades projetuais, com objetivos claramente definidos, dados suficientemente coletados e processados (organizados e avaliados), em função do desenvolvimento de todo um processo da criação e produção do objeto a fim de dar a solução ao determinado problema previamente definido.

sábado, 1 de agosto de 2009

OS SENTIMENTOS E A NATUREZA HUMANA

Quando pensei em usar o blog para apresentar meus pontos de vista sobre diversas coisas da vida e também expressar meus sentimentos em relação às diferentes experiências pessoais, eu tinha em mente um claro objetivo – ajudar a mim mesmo a entender o verdadeiro sentido da vida, pois fazendo isso estaria fazendo constantemente reflexões sobre a minha própria existência neste mundo tão cheio de problemas e contradições. Vou tentar expressar com um coração aberto, mesmo que guardaria ainda algumas coisas dentro de mim, talvez para sempre.

Sou muito sensível às coisas ruins, como também às coisas boas. Sou extremamente feliz com as coisas que eu adoro fazer: pintar, escrever, criar e construir objetos, viajar e mergulhar na cultura chinesa. Lamento que não possa ter o tempo suficiente para realizar tudo que queria fazer na vida, mesmo só no campo de produção artística e literária. Neste caso, para mim a vida humana é demais curta, pois eu precisaria mais de trezentos anos. No entanto, contraditoriamente sofro facilmente ao saber das maldades da humanidade, mesmo apenas sabendo delas através da mídia. Assim, sinto que o mundo é triste e a humanidade que é ruim. Tirei então uma conclusão: não apenas que a sociedade tem que ser justa, mas a natureza humana precisa ser aperfeiçoada; não só economia, ciência e tecnologia devem ser desenvolvidas, mas a educação moral deve ser difundida com reforço. Realmente fico pessimista quando vejo que nada disso está acontecendo.

Os chineses falam dos “sete sentimentos e seis desejos”. Os sete sentimentos – alegria, raiva, tristeza, medo, amor, ódio e desejo e os seis desejos –cor (beleza superficial), som, aroma, paladar, tato, pensamento – fazem parte da natureza humana e são normais, mas quando perdem o equilíbrio ou fogem do controle, o indivíduo começa a agir de modo errado ou simplesmente adoece e, no nível coletivo, então, a natureza humana se deteriora, provocando problemas familiares, sociais, até grandes tragédias e guerras. Ser emotivo, sentimental e sensível é o caráter essencial da natureza humana, mas, somente quando ele se direciona para preservação da vida, da beleza, da harmonia e da paz, ele se torna a base da “boa natureza humana”. O mundo fica melhor quando as pessoas de boa natureza humana vencem as pessoas de má natureza humana. A natureza humana que destrói a vida e a harmonia é capaz de transformar o mundo num inferno.

A natureza humana difere-se da natureza animal por ter o homem capacidade de pensar, de aprender, de se conscientizar e julgar. Quanto à sua qualidade ética natural, até os mestres confucionistas se divergiram. Mengzi (Mêncio, 371-289 AC) sustentava que a natureza humana é originalmente boa. Xunzi (300-230 AC) julgava que a natureza humana é originalmente má. Na verdade, independentemente da sua qualidade original, a natureza humana precisa ser aperfeiçoada e a boa natureza humana preservada por meio de educação, doutrinação, conscientização. Os sentimentos humanos não deveriam ser limitados em conceitos banais como os de “sete sentimentos e seis desejos”. A natureza humana pode ser aperfeiçoada e cultivada, sim, com sentimentos sublimes.

O ser humano emotivo, sentimental e sensível cultiva o amor, a benevolência e privilegia a harmonia e a beleza. A filosofia ética confucionista sustenta que o homem possua os sentimentos sublimes. A palavra sentimento é representada na filosofia confucionista pelo ideograma (coração). Mengzi disse: “O sentimento de compaixão é essencial ao homem... O sentimento de compaixão é o princípio de benevolência. O sentimento de vergonha e aversão é o princípio de retidão. O sentimento de modéstia e complascência é o princípio de decoro. O sentimento de certo e errado é o princípio de conhecimento (sabedoria)” (恻隐之心,仁之端也;羞之心,之端也;辞之心,礼之端也;是非之心,智之端也). Mengzi considera esses quatro sentimentos ou virtudes como princípios éticos dos sentimentos naturais do ser humano, defendendo assim que a natureza humana seja originalmente boa. Zhuxi (1130-1200), um dos pensadores neo-confucionistas mais representativos, faz a distinção entre a natureza humana e os sentimentos, quando ele diz que benevolência, retidão, decoro e sabedoria fazem parte da natureza humana, enquanto que compaixão, vergonha e aversão, modéstia e complascência, certo e errado são sentimentos, porém, ambos estão interligados.

Na vida cotidiana, eu me esforço para preservar a harmonia em mim mesmo, mas sinto a impotência diante de empecilhos e dificuldades, por eu ser uma pessoa muito comum, com vários defeitos! Não é fácil encontrar o ponto de equilíbrio e o bom uso dos “sete sentimentos e seis desejos” em diversas situações. Por ser eu emotivo, sentimental e sensível, preciso fazer grande esforço para ser feliz, encontrando mais paz, amor e harmonia, em mim, no meu lar e no trabalho. Imagine, então, como é difícil para a humanidade como toda obter a boa natureza humana! Se um dia o milagre acontecer, o mundo será maravilhoso.

Gosto muito de uma música chinesa – O Oferecimento do Amor (ài de fèngxiàn) – cantada por Wei Wei e fez sucesso na década de 80. Essa canção, com letra simples, porém comove corações sensíveis e traz exatamente a mensagem de que o amor deveria ser amplamente cultivado e que seja base de um harmonioso mundo humano:

Esse é o chamado do coração

Esse é o oferecimento do amor

Esse é o vento da primavera da humanidade

Essa é a fonte da vida

Não haverá mais o deserto do coração

Não haverá mais o deserto do amor

Até o deus da morte se recua

As flores da felicidade desabrocham em todos os lugares

Ah! Só é preciso que todos ofereçam um pouco de amor

Que a terra se tornará um belo mundo humano

Ah! Só é preciso que todos ofereçam um pouco de amor

Que a terra se tornará um belo mundo humano

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Inaugurei hoje o meu blog

Inaugurei hoje o meu blog. De agora em diante vou "falar" das minhas visões sobre assuntos muito variados do meu interesse. Assim não só os meus amigos, colegas e alunos, mas também aqueles que têm interesse de participar das discussões sobre as questões abordadas, poderão ler literalmente meus "pensamentos" e opinar, para que eu possa ampliar a minha visão do mundo e aprender constantemente.

Quem sou eu

Minha foto
Eu sou chinês e muito. Também sou brasileiro, pois já me naturalizei e amo o Brasil de coração. Adoro pintar,escrever, criar e construir objetos, especialmente brinquedos. Adoro viajar, especialmente para a China. Sou professor do Curso de Design da Universidade Católica de Goiás. Dou aulas de pintura, ilustração e mandarim no Espaço Cultural Milagre dos Peixes em Goiânia. Se quiser conhecer meus trabalhos e o currículo, acesse o meu site www.taistudio.com.br

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