sábado, 1 de agosto de 2009

OS SENTIMENTOS E A NATUREZA HUMANA

Quando pensei em usar o blog para apresentar meus pontos de vista sobre diversas coisas da vida e também expressar meus sentimentos em relação às diferentes experiências pessoais, eu tinha em mente um claro objetivo – ajudar a mim mesmo a entender o verdadeiro sentido da vida, pois fazendo isso estaria fazendo constantemente reflexões sobre a minha própria existência neste mundo tão cheio de problemas e contradições. Vou tentar expressar com um coração aberto, mesmo que guardaria ainda algumas coisas dentro de mim, talvez para sempre.

Sou muito sensível às coisas ruins, como também às coisas boas. Sou extremamente feliz com as coisas que eu adoro fazer: pintar, escrever, criar e construir objetos, viajar e mergulhar na cultura chinesa. Lamento que não possa ter o tempo suficiente para realizar tudo que queria fazer na vida, mesmo só no campo de produção artística e literária. Neste caso, para mim a vida humana é demais curta, pois eu precisaria mais de trezentos anos. No entanto, contraditoriamente sofro facilmente ao saber das maldades da humanidade, mesmo apenas sabendo delas através da mídia. Assim, sinto que o mundo é triste e a humanidade que é ruim. Tirei então uma conclusão: não apenas que a sociedade tem que ser justa, mas a natureza humana precisa ser aperfeiçoada; não só economia, ciência e tecnologia devem ser desenvolvidas, mas a educação moral deve ser difundida com reforço. Realmente fico pessimista quando vejo que nada disso está acontecendo.

Os chineses falam dos “sete sentimentos e seis desejos”. Os sete sentimentos – alegria, raiva, tristeza, medo, amor, ódio e desejo e os seis desejos –cor (beleza superficial), som, aroma, paladar, tato, pensamento – fazem parte da natureza humana e são normais, mas quando perdem o equilíbrio ou fogem do controle, o indivíduo começa a agir de modo errado ou simplesmente adoece e, no nível coletivo, então, a natureza humana se deteriora, provocando problemas familiares, sociais, até grandes tragédias e guerras. Ser emotivo, sentimental e sensível é o caráter essencial da natureza humana, mas, somente quando ele se direciona para preservação da vida, da beleza, da harmonia e da paz, ele se torna a base da “boa natureza humana”. O mundo fica melhor quando as pessoas de boa natureza humana vencem as pessoas de má natureza humana. A natureza humana que destrói a vida e a harmonia é capaz de transformar o mundo num inferno.

A natureza humana difere-se da natureza animal por ter o homem capacidade de pensar, de aprender, de se conscientizar e julgar. Quanto à sua qualidade ética natural, até os mestres confucionistas se divergiram. Mengzi (Mêncio, 371-289 AC) sustentava que a natureza humana é originalmente boa. Xunzi (300-230 AC) julgava que a natureza humana é originalmente má. Na verdade, independentemente da sua qualidade original, a natureza humana precisa ser aperfeiçoada e a boa natureza humana preservada por meio de educação, doutrinação, conscientização. Os sentimentos humanos não deveriam ser limitados em conceitos banais como os de “sete sentimentos e seis desejos”. A natureza humana pode ser aperfeiçoada e cultivada, sim, com sentimentos sublimes.

O ser humano emotivo, sentimental e sensível cultiva o amor, a benevolência e privilegia a harmonia e a beleza. A filosofia ética confucionista sustenta que o homem possua os sentimentos sublimes. A palavra sentimento é representada na filosofia confucionista pelo ideograma (coração). Mengzi disse: “O sentimento de compaixão é essencial ao homem... O sentimento de compaixão é o princípio de benevolência. O sentimento de vergonha e aversão é o princípio de retidão. O sentimento de modéstia e complascência é o princípio de decoro. O sentimento de certo e errado é o princípio de conhecimento (sabedoria)” (恻隐之心,仁之端也;羞之心,之端也;辞之心,礼之端也;是非之心,智之端也). Mengzi considera esses quatro sentimentos ou virtudes como princípios éticos dos sentimentos naturais do ser humano, defendendo assim que a natureza humana seja originalmente boa. Zhuxi (1130-1200), um dos pensadores neo-confucionistas mais representativos, faz a distinção entre a natureza humana e os sentimentos, quando ele diz que benevolência, retidão, decoro e sabedoria fazem parte da natureza humana, enquanto que compaixão, vergonha e aversão, modéstia e complascência, certo e errado são sentimentos, porém, ambos estão interligados.

Na vida cotidiana, eu me esforço para preservar a harmonia em mim mesmo, mas sinto a impotência diante de empecilhos e dificuldades, por eu ser uma pessoa muito comum, com vários defeitos! Não é fácil encontrar o ponto de equilíbrio e o bom uso dos “sete sentimentos e seis desejos” em diversas situações. Por ser eu emotivo, sentimental e sensível, preciso fazer grande esforço para ser feliz, encontrando mais paz, amor e harmonia, em mim, no meu lar e no trabalho. Imagine, então, como é difícil para a humanidade como toda obter a boa natureza humana! Se um dia o milagre acontecer, o mundo será maravilhoso.

Gosto muito de uma música chinesa – O Oferecimento do Amor (ài de fèngxiàn) – cantada por Wei Wei e fez sucesso na década de 80. Essa canção, com letra simples, porém comove corações sensíveis e traz exatamente a mensagem de que o amor deveria ser amplamente cultivado e que seja base de um harmonioso mundo humano:

Esse é o chamado do coração

Esse é o oferecimento do amor

Esse é o vento da primavera da humanidade

Essa é a fonte da vida

Não haverá mais o deserto do coração

Não haverá mais o deserto do amor

Até o deus da morte se recua

As flores da felicidade desabrocham em todos os lugares

Ah! Só é preciso que todos ofereçam um pouco de amor

Que a terra se tornará um belo mundo humano

Ah! Só é preciso que todos ofereçam um pouco de amor

Que a terra se tornará um belo mundo humano

2 comentários:

  1. Existe a pessoa bruta e a sensivel que esta apta e perceber o amor a realidade da vida. O rude vive o seu Eu egoista nao sonha com a beleza ...

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  2. Existe a pessoa bruta e a sensivel que esta apta e perceber o amor a realidade da vida. O rude vive o seu Eu egoista nao sonha com a beleza ...

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Quem sou eu

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Eu sou chinês e muito. Também sou brasileiro, pois já me naturalizei e amo o Brasil de coração. Adoro pintar,escrever, criar e construir objetos, especialmente brinquedos. Adoro viajar, especialmente para a China. Sou professor do Curso de Design da Universidade Católica de Goiás. Dou aulas de pintura, ilustração e mandarim no Espaço Cultural Milagre dos Peixes em Goiânia. Se quiser conhecer meus trabalhos e o currículo, acesse o meu site www.taistudio.com.br

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